Este é um texto da série Contos & Café, que dá as caras aqui no blog quando eu me sinto inspirada. Para ler outros textos desta categoria, clique aqui.
Nove e meia. Era domingo e ela ainda dormia. Pudera, depois de quase duas garrafas de vinho que tomamos na noite anterior. Mas o motivo era dos mais nobres: nós, que não achávamos que essa história ia sobreviver sequer até um segundo encontro, estávamos comemorando um ano de casamento.
Um ano.
De casamento.
Me levantei da cama e me movi pelo quarto tentando fazer o mínimo de barulho possível, seguindo para a rotina de todo domingo: nosso café da manhã. Ela gostava de acordar com o aroma do café passado no coador de pano e o pão de queijo no forno; e eu gostava de vê-la sorrir com os olhos para mim, enquanto tomava o primeiro gole em sua grande caneca verde do Mike Wazowski.
Em pouco minutos, ela saiu pela porta do quarto, deu um longo suspiro e veio até mim. Eu poderia dizer que ela anda em câmera lenta, com os cabelos esvoaçantes, a pele perfeita, usando seu pijama branco de seda; mas não… É melhor que isso: não é um comercial de TV, é real. Ela existe, com seu cabelo bagunçado, o rosto amassado com a marca das dobras do lençol e minha antiga camiseta de Star Wars; se sentou à minha frente e disse, com um tom de arrependimento na voz:
— Eu nunca mais vou beber.
— Nós sempre dizemos isso, mas nunca paramos de comprar vinho — respondi, despejando café em sua caneca.
— De que vale uma adega climatizada sem vinhos, me diz?! — Ela brincou, enquanto engolia um comprimido para dor.
Para variar, ela estava certa. Enquanto houvesse o que comemorar, haveria vinho na adega e remédio para dor de cabeça no criado-mudo. E o que eu mais desejava era que nada disso tivesse motivo para acabar.
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