Desde que começamos a Citrus Consultoria, vimos uma oportunidade interessante no horizonte: sair do Brasil. Nós não temos escritório fixo, podemos trabalhar em qualquer lugar com internet: em casa, numa cafeteria, num shopping e até mesmo em outro país. Uma vez que não podemos “largar tudo e ir morar fora”, esta seria uma boa opção para mudar a vida sem ter que jogar tudo para o alto.
Num momento em que muita gente deseja se mudar daqui por motivos econômicos e/ou políticos, o que nos tem assustado de verdade são as pessoas. Mais especificamente: a forma como as pessoas tratam umas às outras.
É um individualismo que dá muito medo.
Você não consegue sequer atravessar a rua sem passar nervoso. E não estamos falando de uma grande e movimentada avenida, estamos falando de uma pessoa quase sendo atropelada numa rua estreita, em um bairro domiciliar, por motoristas provavelmente atrasados o suficiente para quase passar por cima desta pessoa caso ela não atravesse a rua rápido o suficiente. Isso quando não gritam com você e te xingam por causa disso. Porque você está atravessando a rua, na faixa. Só isso.
Ciclistas que são xingados por usar uma ciclovia “construída” por um prefeito de um partido x ou que são colocados em risco simplesmente por estarem se locomovendo de um lugar a outro.
Mencionar isso como um motivo para querer ir embora parece bobo, mas a forma como os pedrestes e os ciclistas de um lugar são tratados diz muito sobre a população daquele lugar.
Alunos e professores que apanham quando vão às ruas protestar por mais qualidade no ensino. Nós dois estudamos em escolas públicas durante boa parte de nossas vidas e sabemos bem da realidade. E ninguém se importa.
Machismo, homofobia, racismo. E todos aqueles assuntos sobre os quais ninguém pode falar, porque aí já somos “a geração mimimi”.
Crise econômica passa. Partidos saem e entram no poder. Mas e essa agressividade toda, quando passa?
Pode ser que estejamos com essa agonia por vivermos em uma cidade como São Paulo? Talvez sim. Talvez não. Ler os comentário de portais faz com que acreditemos mais na segunda opção.
Parece irônico falar isso, reclamar de individualismo, mas ao mesmo tempo querer fazer as malas e ir embora. Sabemos que se queremos que isso mude, deveríamos ficar aqui e contribuir para essa mudança. Mas quando vai vir a mudança? Nós podemos educar nossos filhos, eles podem educar os filhos dele e por aí vai. E quando isso passa? Quando nossos bisnetos forem adultos? Talvez nem isso 🙁
Nós não odiamos o Brasil. Pelo contrário, achamos que é um país muito bonito, cheio de oportunidades. Nossas famílias estão aqui, nossa história está aqui. Mas tudo é muito triste quando você não consegue sequer atravessar a rua direito, não pode andar de bike pela cidade ou tem medo ter um filho para inseri-lo neste ambiente.
Obviamente, sabemos que nossa aflição é algo minúsculo perto da realidade de muitos brasileiros. Também sabemos que cada país tem seus defeitos, que nada é perfeito. Mas precisamos ficar, pelo menos, uma temporada fora vivendo uma cultura diferente. Nem que seja para decobrirmos que estávamos errados. Ou então, nos apaixonarmos pela vida fora e planejar um futuro longe da Terra Tupiniquim.
E não, nós não queremos fugir para Miami. Nem para Cuba. Ok? A gente não quer sair daqui pra poder viver uma vida glamurosa em qualquer outro lugar do mundo (não que essa fosse uma opção, claro hahaha). Nós só queremos respirar novos ares, sair na rua sem ter medo de morrer ou ser xingado por alguém. Nós só queremos nos sentir bem fora de casa. E isso parece ser pouco, mas ultimamente tem sido pedir demais.
De qualquer forma, mudar de país é algo que leva tempo. E, quem sabe, em breve não mostramos aqui os próximos passos?
Nós estamos ansiosos para sair do Brasil. Não é por causa de política, não é por causa de dinheiro. É por causa de pessoas.
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